Conte uma História

O sanduíche roubado

Por 23 de março de 2017 Sem Comentários


O SANDUÍCHE ROUBADO
*Ozeni Lima

O cheiro do sanduíche impregnava a cozinha da empresa, espalhava-se pelos corredores e chegava à diretoria.
Quando alguém perguntava que cheiro era aquele, ele dizia que a esposa fazia um molho com pimentão e cebola e colocava no pão. Nada, além disso. Um dia, após saborear o famoso “me devora”, como costuma falar, foi chamado pelo diretor.
Acreditando que tinha feito alguma coisa errada, o humilde trabalhador apresentou-se cabisbaixo: Não via a hora de acabar com aquela aflição. Não sabia como se comportar, diante do dono daquele império. Optou por ficar de boca fechada.
– Sente-se.
Sem saber como e onde se sentar, arriscou:
– Não, senhor, tô em pé por gosto.
– Fique à vontade, quero lhe propor um negócio.
Ele arregalou os olhos sem entender o que se passava na cabeça do manda chuva. Por fim, balbuciou:
– Um negócio, seu Luiz Henrique?!
– Um negócio, no ramo da alimentação. Sua mulher deve ser uma cozinheira de mão cheia. Se um simples sanduíche causa uma revolução em nosso estômago, os pratos que ela faz deve deixar qualquer rei satisfeito! O que você me diz, rapaz?
– Seu Luiz Henrique, como é que eu posso abrir um negócio com o senhor se não tenho dinheiro?
– Não se preocupe com isso! Eu entro com o capital e sua mulher com a culinária. O tempero dela é excelente!
– Isso é verdade. A carne de panela que ela faz é de fechar o comércio.
– Fechar, não!!! Vamos abrir o comércio! Traga sua mulher aqui, amanhã, no primeiro horário.
Empolgado com a proposta do empresário, comentou com um colega de trabalho, o quanto estava entusiasmado.
No dia seguinte, porém, quando o futuro empresário procurou o sanduíche na mochila, não encontrou nem o cheiro. O diretor. Imediatamente foi à delegacia de polícia mais próxima para fazer um Boletim de Ocorrência:
– O senhor está brincando comigo?! – exclamou o delegado, furioso.
– Não estou brincando, coisa nenhuma! Roubaram um sanduíche precioso em minha empresa!
– O senhor vai me desculpar, mas isso é um absurdo! Temos assuntos importantes para resolver.
– Delegado, no momento, para mim, não existe nada mais importante do que o roubo desse sanduíche. Por favor, faça o BO. Não estou falando de um sanduíche qualquer!
– Sanduíche é sanduíche, em qualquer lugar.
– Com o perdão da palavra, o senhor está equivocado! O sanduíche do qual estou lhe falando é tão especial que, há quilômetros, sentimos o cheiro!
Mais irritado, ainda, o delegado exclamou, gesticulando:
– Ora, se o sanduíche é tão cheiroso assim, quem o comeu deve estar com o cheiro fresquinho nos poros!
O empresário disse com ar de satisfação:
– É isso! Vamos cheirar todos os funcionários! Quem tiver cheirando a pimentão com cebola, é o gatuno!
– É o fim do mundo! Imaginem só, o papel ridículo que faremos por causa de um sanduíche?! – exclamou o gerente financeiro para os colegas.
– Por que você não diz isso para o diretor? – perguntou o gerente de marketing.
Os funcionários fizeram fila para serem cheirados pelos, então, cães perdigueiros. Muitos tentaram segurar o riso, mas não conseguiram.
Depois de cheirar o cangote de um ajudante geral, a secretária do diretor gritou:
– Achei! Foi ele! Foi ele quem comeu o sanduíche!
O ajudante geral foi levado à sala do Todo Poderoso:
– Posso saber por que você comeu o sanduíche, meu rapaz? – perguntou o diretor com pose de Sherlock Holmes.
Sem titubear o infrator respondeu:
– Seu Luiz Henrique, quando fiquei sabendo que meu colega ia ser seu sócio…- fez uma pausa – Fiquei maluco! Trabalho feito um condenado, nos finais de semana, vendendo sanduíche na praia, de sol a sol, e o senhor vai gostar justamente do cheiro do sanduba dele? Comi para saber que gosto tem.
Com as pernas bem abertas, o diretor arrastou a cadeira para o lado direito da mesa, passou a mão sobre os lábios como se os limpasse e perguntou, curioso:
– E, então?
– Então, o quê, seu Luiz Henrique?
Levantando a sobrancelha direita, o diretor perguntou em tom confidencial:
– Que gosto tem o diacho desse sanduíche?!
Sentindo-se importante, o ajudante geral respondeu baixinho.
– Tem gosto de pão velho enrolado em pano de prato sujo.
O diretor fez uma cara de nojo, pediu que o funcionário se retirasse e nunca mais tocou no assunto.


Currículo – Ozeni Lima é autora de vários livros publicados no Brasil e em Portugal. É Bacharel em Secretariado Executivo, Licenciada em Filosofia, pós graduada em Língua e Literatura Portuguesa e em Gestão Estratégica da Educação. Dentre seus livros destacam-se: A Dieta do Espirito – para o equilibrio da existência, Pai Ocupado, Filho Culpado, Entre Pedras e Plumas e O Colar de Hércules – uma metáfora do livre arbítrio e a Coleção: OS ANJOS DA FELICIDADE, pulicada em 2015 em Portugal e no Brasil. Afirma não ser autora exclusiva das suas obras. Acredita que as ideias são sementes divinas, soltas no universo, à disposição de todos. Aproveita a intimidade que tem com a vida para catar as melhores histórias.

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