A criança sofre pela inconsequência. Com suas peraltices, acaba quebrando a cara, a perna, o braço. O jovem sofre de ansiedade e enfrenta momentos cruciais de indecisão. O adulto costuma estar sufocado com as responsabilidades na família e no trabalho sem fim. O idoso é dispensado desses contratempos das fases anteriores, mas seu corpo já não tem o mesmo vigor – até porque existe uma lei maior que determina que “não se pode ter tudo ao mesmo tempo”.
Por toda a existência, temos sonhos de fazer coisas que nos dão prazer, porém o corre-corre da vida acaba por inviabilizar a concretização de muitos desses desejos. Quando se torna idoso, contudo, muitas das vontades abandonadas são resgatadas e levadas a cabo. É tempo de colheita: hora de usufruir o que se plantou. É quando se pode assistir àqueles filmes maravilhosos e ler todos os livros que não se teve tempo até então. É cultivar amizades preciosas, assim como as flores nos jardins – o paraíso na terra. É tempo de deixar aflorar os talentos reprimidos e conquistar novos espaços. Admiro os idosos que se aceitam como tal.
Acho bonito, sobretudo, os assumidos de carteirinha. Quem já não viu um idoso todo satisfeito em poder cortar a fila no Banco e andar de graça no ônibus? Em vez de lamentar o tempo passado, comemora a conquista dos anos e busca formas de usá-la em seu presente, inclusive adequando o ritmo de sua vida produtiva ao seu novo momento. Nas poucas vezes em que tenho a oportunidade de caminhar na praça, observo a predominância de idosos. Aliás, eles são exemplos de zelo com a saúde: caminham, fazem hidroginástica, dançam, frequentam academias. Ah! E como viajam, como passeiam com sua turma, riem, cantam e namoram!
Chego a sentir uma pontinha de inveja… Que a Providência me conceda o bastão abençoado da velhice – o horizonte já me acena – e que eu possa alçá-lo com sabedoria até o fim da jornada. (contribuição de Katia D.D. Gargantini)