Surgiu do nada, como surgem os insetos indesejados. Mas não era um inseto, era uma linda borboleta azul, dessas que enfeitam os campos, anunciando a primavera.
De longe, sem poder falar para externar meu contentamento, eu a observava e desejava que ela, de mim, se aproximasse. Somente eu tinha olhos para a borboleta azul em tonalidades degradé. Para festejar esse momento precioso, bati palmas.
Mamãe exclamou:
─ Meu querido! Gosta de passear no jardim?!
Eu sabia o que se passava ao meu redor, mas não tinha como me expressar, por isso, utilizei-me do pranto e do riso para demonstrar meus sentimentos. A borboleta azul desapareceu num piscar de olhos. Não tive outro jeito: escandalizei o mundo com um berreiro de fazer qualquer um imaginar que eu estivesse sendo esquartejado vivo.
Mamãe perguntou:
─ O que foi, minha criança?
Não sei se por obra da força de meu choro ou por piedade, a borboleta voltou e pousou em uma flor bem diante de meus olhos lacrimosos. Bati palmas e a agradeci. Mamãe continuava em seu mundo, de mulher deslumbrada com o primeiro filho. Ficou feliz com minha alegria repentina, mas não curtiu aquele passeio do jeito que eu curti. Para mim, a vida era uma pérola que principiava com a admiração de uma simples borboleta azul. Sensível como as flores, continuou estática para minha felicidade. Mamãe tentou empurrar meu carrinho para outro canteiro de flores e eu chorei com toda força que meus pequenos pulmões me conferiam.A borboleta, por sua vez, começou a dançar diante de mim num verdadeiro show poético. Entendi a mensagem: ela me acompanharia onde quer que mamãe me levasse.Vendo que eu continuava feliz, mamãe deu uma volta no jardim sem perceber que a borboleta azul nos acompanhava. Mamãe ouvia apenas seus próprios pensamentos. Lembrava-se de uma história que papai lhe contara na noite anterior. Papai sempre mentia muito para mamãe. Cada vez que ele aumentava o teor dos fatos, eu sorria e até gargalhava. Ela imaginava que eu era um bebê feliz. O sol se pôs e a borboleta se recolheu em algum recanto do jardim. Eu compreendi que deveria aceitar sua ausência como aceitara a do sol. Todas as manhãs, mamãe abria a janela e se deparava com minha borboleta azul:
─ Uma borboleta azul! Dizem que é um bom presságio!
Meu encanto voava para não ser confundida com um amuleto da sorte. Somente mais tarde, enquanto passeávamos no jardim é que reaparecia com suas asas azuis, tão azuis que se confundiam com as flores de maio. Passamos boa parte de nossas vidas juntos. Os adultos não perceberam nossa amizade sincera. Acho que é por isso que os anjos só aparecem para as crianças. Somente quem tem olhos de borboleta pode enxergá-los.
Conheça mais sobre
Ozeni Lima nasceu na Fazenda Bebedouro, em 1962, município de Antônio Gonçalves, Bahia. Cursa o último semestre de Licenciatura em Filosofia. É pós-graduada em Língua e Literatura Portuguesa e em Gestão Estratégica da Educação. Conquistou cerca de 40 premiações em Literatura. Tem 17 livros publicados, sendo cinco deles em Portugal. Seus livros já foram divulgados na Argentina, Córdoba e em Munique, Alemanha. Vive entre Brasil e Portugal, divulgando sua obra.
Dentre seus livros destacam-se: A Dieta do Espírito – para o equilíbrio da existência, autoajuda, 2007 (Brasil,) 2011, (Portugal). Entre Pedras e Plumas, romance de ficção, e Pai Ocupado, Filho Culpado, 2010, prêmio de edição pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, romance de ficção. Sob o chão que nos sustenta, romance de ficção 2012 (Brasil). O Colar de Hércules – uma metáfora do livre arbítrio e O Diário de Deus, romance de ficção, 2011, (Portugal). Paz, O Diamante da Alma, autoajuda, em parceria com o psiquiatra Sebastião de Melo, 2013 (Portugal).
Último lançamento: A Coleção os Anjos da Felicidade, 2015, Brasil e Portugal, composta por 12 livros, cada um corresponde a uma virtude, um mês, uma cor e uma flor. O propósito da Coleção é provocar no leitor a necessidade de refletir sobre o valor de uma conduta eticamente positiva, para agir bem e viver feliz, a partir do desenvolvimento das 12 virtudes que nomeiam a Coleção: Alegria, Tolerância, Caridade, Esperança, Amor, Perdão, Amizade, Justiça, Paz, Bondade, Simplicidade e Fé.
Considera-se uma catadora de histórias. Afirma não ser autora exclusiva de suas obras. Acredita que as ideias são sementes divinas, soltas no universo, à disposição de todos. Aproveita a intimidade que tem com a vida para catar as melhores histórias.
Site da autora: WWW.ozenilima.com.br
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