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Tropicalismo – por Profª Anna Glória

Por 24 de novembro de 2015 2 Comentários

 

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Universidade Aberta para a Terceira Idade 

A música no Contexto Social 

Profa. Anna Glória Nogueira Santos

tropicalismo foto


Tropicalismo

“O Tropicalismo foi o avesso da Bossa Nova”. (Caetano Veloso)

Tropicália

Sobre a cabeça os aviões/ sob os meus pés os caminhões/ aponta contra os chapadões/ meu nariz/ eu organizo o movimento/ eu oriento o carnaval/ eu inauguro o monumento/ no planalto central do país/ viva a bossa-as-as/ viva a palhoça-ça-ça-ça (bis)/ o monumento é de papel crepom e prata/ os olhos verdes da mulata/ a cabeleira esconde atrás da verde mata/ o luar do sertão/ o monumento não tem porta/ a entrada é uma rua antiga estreita e torta/ e no joelho uma criança sorridente feia e morta/ estende a mão/ viva a mata-ta-ta/ viva a mulata-ta-ta-ta-ta (bis) no pátio interno há uma piscina/ com água azul de Amaralina/ coqueiro, brisa e fala nordestina e faróis/ na mão direita tem uma roseira/ autenticando a eterna primavera/ e nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira/ entre os girassóis/ via Maria-ia-ia/ viva a Bahia-ia-ia-ia-ia (bis)/ no pulso esquerdo o bang-bang/ e msuas veias corre muito pouco sangue/ mas seu coração balança a um samba de tamborim/ emite acordes dissonantes/ pelos cinco mil alto-falantes/ senhoras e senhores ele põe os olhos grandes/ sobre mim/ viva Iracema-ma-ma/ viva Ipanema-ma-ma-ma-ma (bis)/ domingo é o Fino da Bossa/ segunda-feira está na fossa/ terça-feira vai `roça/ porém/ o monumento é bem moderno/ que tudo mais vá pro inferno/ meu bem/ que tudo mais vá pro inferno/ meu bem/ viva a banda-da-da/ Carmen Miranda-da-da-da-da (bis)/


 

Caetano Veloso- Tropicália

Esta composição deu o nome ao movimento. Uma “colagem” crítica do contexto brasileiro. As rimas e as repetições em eco das sílabas finais dão uma sonoridade única ao texto, que tem ainda outra característica inusitada: frases longuíssimas, que parecem romper a quadratura estrófica, seguidas de versos curtos, em que um substantivo emerge sozinho, subitamente valorizado; “e nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis”.
Júlio Medalia foi o responsável pela regência e pela orquestração, em que entram pistões, trombones, vibrafones, bateria, bangô, tumbadora, agogô, chocalho, triangulo, violões, viola caipira e baixo-elétrico ao lado de violinos, violas e violoncelo. Estes se integram, logo no ínicio, ao clima “tropical”, numa imitação de pássaros. Uma paródia da carta de Pero Vaz Caminha, improvisada pelo bateirista Dirceu, foi também incorporada à introdução, sublinhando o humor crítico do texto. Foi gravada na Philips, em 9 de janeiro de 1968.
“Tropicália” está dividida em cinco partes de melodias primárias e iguais, cada uma terminando com um surpreendente par de “vivas”. A composição oferece uma visão critica e sintetizada da realidade brasileira, contrapondo valores dessa realidade.
Após a Bossa Nova e a Jovem Guarda e com a música popular brasileira em constante evolução e uma outra, internacional (Beatles, Elvis, etc), mas integrada de maneira viva e criativa nos interesses da juventude, uma nova síntese acabou por surgir: a Tropicália – Tropicalismo. Caetano Veloso e Gilberto Gil, que iniciaram suas carreiras como autores de motivação nordestina, adotaram uma posição artística apoiada no antropofagismo proposto por Oswald de Andrade. A partir de “Tropicália”, “Alegria, Alegria” e “Domingo no Parque”, construíram um gigantesco caldeirão musical, dentro do qual tudo cabia para posterior “deglutição”. Além das conquistas da ‘música jovem’, passou a preocupa-los todo um arsenal sonoro e literário, que incluía a bossa nova, a bossa velha, a guitarra elétrica, e a música eletrônica, a música fina e a chamada cafona, a música de vanguarda e a de retaguarda, o baião e o beguine, a banana e o computador, o bolero e o latim.
Lutando violentamente contra o lema de que “um país subdesenvolvido deve criar uma música subdesenvolvida”, Caetano e seu grupo associaram-se a artistas de vanguarda, como o diretor de teatro José Celso, os poetas Décio Pignatari e Augusto de Campos, aos músicos Rogério Duprat, Damiano Cozzella e Júlio Medaglia.
Foram seus seguidores: Os Mutantes, Gal Costa, Torquato Neto, Capinam, Tom Zé e Jorge Benjor. Eles fizeram uma revolução musical tão polêmica quanto a Bossa Nova.. E sua experiência cultural terá de ser levada em conta, desde então, entre os múltiplos e fascinantes caminhos da música popular brasileira.


 

Alegria, Alegria – Caetano Veloso

Gilberto Gil & Os Mutantes – Domingo No Parque

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