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Virtude e Virtualidade por Ozeni Lima

Por 30 de junho de 2016 Sem Comentários

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VIRTUDE E VIRTUALIDADE
Ozeni Lima

− Pai, virtude e virtualidade é a mesma coisa?
Perguntou a menina de sete anos enquanto o pai navegava no mundo virtual. Jamais teria pensado na semelhança das duas palavras. Ouviu a voz da filha como se ouvisse o eco de sua ignorância. Clicou no anúncio do suco detox. A filha insistiu:
− Pai, onde fica o mundo virtual?
Continuou fingindo que não era com ele. A menina ameaçou irritada:
− Se você continuar me ignorando, vou procurar o outro pai!
Ele fixou os olhos na foto da garota detox e pensou displicente: “outro pai?!” – devolveu a ameaça da filha:
− Rafaela, se você continuar me perturbando, corto sua mesada!
A menina sorriu irônica:
− Grande coisa! Na casa da vovó tenho tudo…cama, mesa…brinquedos…
O pai encarou a filha, pela primeira vez:
− Tudo o que você me pede eu dou. Já a sua mãe… faz de conta que você não existe. Por falar nisso, cadê a sua mãe?
− Tô aqui, amor! – Respondeu a mãe de Rafaela da sala de jantar. Batia altos papos com as amigas virtuais, que viviam do outro lado do mundo.
A menina foi para a biblioteca, dormiu e sonhou que era um livro gigante, de pernas também gigantes, andando pelas ruas das cidades, batendo de porta em porta, procurando leitores, mas todos estavam debruçados em seus computadores.
Quando Rafaela acordou, concluiu que a virtude da virtualidade está em aceitar os que pensam ser reais sem jamais ter existido.


Minicurrículo:

Ozeni Lima nasceu em 1962, em Antônio Gonçalves, Bahia, Brasil. Mora em Santos, SP. É professora, Especialista, em Língua e Literatura Portuguesa e em Gestão Estratégica da Educação. Está cursando Filosofia. Sua obra já foi divulgada na Alemanha, concretamente em Munique e em Córdoba, na Argentina. Dos seus livros destacam-se: A Dieta do Espírito – para um equilíbrio da existência, O Diário de Deus, 2011; O Colar de Hércules – uma metáfora do livre-arbítrio, O Amor na Terra do Sim, 2012 e Paz, o Diamante da Alma, em parceria com Sebastião de Melo, 2013, publicados pela Padrões Culturais Editora, Lisboa, Portugal. Pela Giz Editorial, São Paulo Brasil, destacam-se: A Dieta do Espírito, 2007, Entre Pedras e Plumas e Pai Ocupado, Filho Culpado, 2010. Considera-se uma catadora de histórias. Afirma não ser autora exclusiva de suas obras. Acredita que as ideias são sementes divinas, soltas no universo, à disposição de todos. Aproveita a intimidade que tem com a vida para catar as melhores histórias.

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