Fonte: reprodução. Idosa tomando ômega 3.
ÔMEGA 3 na terceira idade: o que a ciência já sabe sobre esse aliado da longevidade
Estudos indicam que o ácido graxo pode ajudar o coração, a mente e até o envelhecimento das células. Com o avanço do envelhecimento populacional no Brasil, cresce também a atenção para cuidados específicos na terceira idade. A nutrição tem papel central nesse cenário, e um dos nutrientes que mais despertam interesse é o ômega 3 . Encontrado em peixes de águas frias e em suplementos, esse ácido graxo essencial é estudado por seus efeitos sobre o corpo que envelhece.
Um estudo da Universidade de Zurique, publicado na revista Nature Aging, acompanhou 777 idosos durante três anos. A descoberta chamou atenção: a suplementação com 1 grama diário de ômega 3 foi capaz de retardar o envelhecimento biológico em até quatro meses.
“Uma das grandes questões no campo do rejuvenescimento é se existe um tratamento capaz de rejuvenescer seres humanos, e não apenas camundongos”, afirmou Heike Bischoff-Ferrari, médica da universidade e autora principal do estudo. A avaliação foi feita por meio de marcadores epigenéticos, que funcionam como um “relógio” molecular das células.
Coração, mente e olhos: uma ação integrada
O ômega 3 não é novidade nas prateleiras, mas o que tem ganhado força são as evidências que apontam para um papel mais abrangente na saúde do idoso. Segundo dados do Ministério da Saúde, 60,9% dos brasileiros com 65 anos ou mais têm hipertensão arterial. A condição é um dos principais fatores de risco para infarto e AVC.
É nesse cenário que entra o ômega 3, conhecido por ajudar a reduzir triglicerídeos e a inflamações de baixo grau associadas ao envelhecimento. “O ômega 3 atua como um anti-inflamatório natural, protegendo o sistema cardiovascular e melhorando a circulação sanguínea”, explica a nutricionista Lucila Santinon, da Vitafor. “Mas ele também tem papel na função cognitiva e no metabolismo dos ossos. É um nutriente que se comunica com vários sistemas do corpo.”
O cérebro, por exemplo, é formado em grande parte por gordura. Um dos principais componentes do ômega 3, o DHA, representa cerca de 20% da gordura cerebral. Estudos apontam que esse ácido graxo contribui para a manutenção da estrutura dos neurônios e pode ajudar na prevenção do Alzheimer.
Um estudo francês publicado na revista Neurology revelou que o consumo regular de peixes ricos em ômega 3 está associado a uma redução de 60% no risco de Alzheimer entre pessoas com mais de 65 anos. Comer peixe uma vez por semana também mostrou impacto: redução de 40% no risco de demência.
Na visão, outro ponto de preocupação para a população idosa, o DHA também exerce um papel protetor. Ele é um dos constituintes da retina, e sua presença ajuda a manter a integridade da visão. “Não é raro ver idosos com degeneração macular relacionada à idade. Manter os níveis adequados de ômega 3 pode ser um diferencial na prevenção”, diz Santinon.
Defesa em dia também importa
A imunidade, que tende a enfraquecer com o tempo, também pode ser beneficiada. O EPA, outro componente do ômega 3, modula a resposta inflamatória e fortalece o sistema de defesa. Segundo a nutricionista, isso se traduz em menos infecções recorrentes e maior resistência geral do organismo. “A gente costuma pensar no ômega 3 só como algo para o coração, mas ele também ajuda muito na resposta imunológica, principalmente em idosos mais vulneráveis”, afirma.
O efeito anti-inflamatório do ômega 3 está relacionado a uma melhor regulação do sistema imunológico, o que é essencial para evitar complicações decorrentes de gripes, infecções urinárias e outras ocorrências frequentes nessa fase da vida. “Trata-se de um suporte amplo, que não resolve tudo sozinho, mas potencializa o que já se faz com dieta, sono e atividade física”, completa Santinon.
Suplementar ou não?
A decisão de tomar ômega 3 em forma de suplemento deve ser avaliada com acompanhamento profissional, sobretudo em idosos que fazem uso de medicamentos anticoagulantes. A dose sugerida geralmente varia entre 1 e 2 gramas diárias de EPA e DHA combinados.
O que observar antes de comprar um suplemento:
Certificação de pureza e origem dos peixes
Ausência de metais pesados, como mercúrio
Concentração adequada de EPA e DHA
O futuro da suplementação aponta para abordagens mais personalizadas, com base em exames laboratoriais e marcadores nutricionais. Por ora, o que a ciência tem mostrado é que o ômega 3, quando bem utilizado, pode ser um parceiro valioso na jornada de envelhecer bem.