“OS RITUAIS E ETIQUETAS DOS BAILES DE FORMATURA”
Ingressei na adolescência no decorrer de 1950 e, antes de completar os 18 anos, participei de meu primeiro baile de formatura, inaugurando o uso do terno. Foi um parto difícil, e devo comentá-lo, expondo especialmente e de maneira clara, a lembrança dos quinze dias que antecederam essa festa, naquilo que eles envolveram de emoção, tensão e ansiedade. Nesse período, meu pai me submeteu a uma verdadeira tortura. Seria minha primeira festa de formatura, com toda a formalidade que abraça uma cerimônia dessa natureza. Então, pedi a ele que me comprasse um terno branco (os ternos brancos, azul-marinhos ou pretos eram permitidos) para que eu pudesse comparecer a esse baile – de cujo colégio não me recordo o nome – mas lembro que foi realizado nos salões do Clube Atlético Santista. O pedido foi negado sob a alegação de impossibilidade financeira. O desejo não me permitiu aceitar aquele argumento para mim inverídico e, teimoso como costumam ser os adolescentes, mantive a insistência diária chegando em certos momentos a chorar, enquanto sua posição se mantinha irredutível. Pois bem: os dias correram e ao lado deles, a esperança não esmorecia. Ou melhor, à medida em que se aproximava a noite do baile, a esperança foi murchando. Na noite, pròpriamente dita, nada mais restava de fé. Eis que, exatamente naquela noite, no horário habitual de seu retorno do escritório para casa, meu pai chegou com grande embrulho. Para me testar, fez preliminarmente um cenário de angustiante agonia, após o que, entregou-me o pacote para ser aberto. Ao fazê-lo, deparei-me com o almejado terno em sua alvura impecável, passadinho, bem como o indispensável vestuário complementar, ou seja, a camisa branca e a gravata borboleta preta. O sapato preto eu já possuía. Minha reação emocional naquele momento foi de tal sorte que não consigo encontrar as palavras exatas para traduzi-la. Talvez eu consiga traçar o seguinte paralelo: da desilusão total à concretização da ilusão, estava diante de um milagre; era como se aquele sentimento tivesse sido retirado de dentro de um freezer, e sobre ele derramado alguns litros de água fervente; ou como se um doente dando seus últimos suspiros na U.T.I., em fração de segundos tivesse recuperado todo o vigor vital. O que a memória não apagou é que após os agradecimentos de praxe, corri para o banheiro, entrei no chuveiro, e depois de demorado banho de água e de lágrimas, enxuguei-me e cantarolando me arrumei para o baile. Pela primeira vez na vida, fiz minha refeição trajando um terno, se bem que o baile só seria iniciado muito mais tarde. Minha memória nada mais registrou. Como foi o baile, com quem conversei ou dancei (se é que dancei), que orquestra abrilhantou aquele evento, que horas retornei? Mas o episódio do terno e as horas e dias que antecederam sua compra, tudo isso permanecerá gravado firmemente no mais fundo do meu ser.